Pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) conclui que pequenas propriedades rurais com até 200 hectares são mais produtivas que as grandes fazendas. A eficiência da pequena propriedade também foi constatada no melhor rendimento dos recursos recebidos, como financiamentos e créditos. Para pesquisadora, os assentamentos da reforma agrária também acompanham a tendência de produtividade da agricultura familiar.
A pesquisa foi coordenada por Rosemeire Aparecida de Almeida, professora pós-graduação em Geografia, do campus de Três Lagoas (MS). Os dados foram colhidos entre 2008 e 2010, com o objetivo de contribuir com a implementação de políticas públicas voltadas à agricultura familiar camponesa.
O estudo teve como foco a análise das transformações no uso e posse da terra no último período censitário (2006), feita pelo IBGE, a partir de duas escalas. A primeira refere-se aos estados do Mato Grosso do Sul e Paraná em si. A segunda é a análise comparativa entre esses estados e também de amostras regionais (região Leste de Mato Grosso do Sul e Norte Central paranaense). A professora conduziu a pesquisa com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento de Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado do Mato Grosso do Sul (Fundect/MS).
Pequena propriedade mais eficiente
No trabalho, Rosemeire detectou os benefícios de um modelo econômico baseado na pequena propriedade. Identificou ainda que, em termos econômicos, a maior vantagem da pequena unidade de produção é a eficiência em relação à grande unidade agrícola. "Outra vantagem desse tipo de modelo é a capacidade de geração de emprego e renda, o que reduz a miséria e a marginalidade, além da agressão ambiental" afirma.
Ainda sobre a pequena unidade de produção, a pesquisadora aponta que os estabelecimentos com até 50 hectares, segundo dados do Censo de 2006, multiplicaram por aproximadamente dez vezes o montante que lhes foi concedido em crédito. Segundo a pesquisadora, esses estabelecimentos receberam um total de R$ 46,6 milhões e responderam com retorno de R$ 434.4 milhões em valor de produção agropecuária. Já os estabelecimentos com mais de mil hectares foram nove vezes menos eficientes, já que obtiveram R$ 1.472.448 em financiamentos e corresponderam com a produção bruta de R$ 1.826.344.
Eficiência da reforma agrária
De acordo com a pesquisadora, os resultados obtidos com o estudo podem ser relacionados aos assentamentos da reforma agrária e indicar a eficiência dela. Para exemplificar, a professora ressalta alguns dados que comprovam a afirmação. Segundo ela, a pequena unidade de produção rural (até 200 hectares) em Mato Grosso do Sul teve um aumento na produção de leite de 41% em relação ao Censo 1995/96, enquanto a média e a grande unidade reduziram sua produção.
Esse aumento na produção se comprovou nas classes de área de menos de 50 hectares, que juntas tiveram um aumento de 93,49% em relação ao Censo 1995/96 e que representam, em grande medida, o tamanho das parcelas dos lotes da reforma agrária. "Esta classe de área, que detém 2,09% da área total, produz sozinha 46,48% do leite no estado, o que nos autoriza a afirmar que a pequena unidade, com diminuta fração de terra, conseguiu melhorar significativamente a produção agropecuária brasileira" conclui.
Pesquisa nos assentamentos
Em dezembro de 2010 o Incra divulgou os resultados da pesquisa Qualidade de Vida, Produção e Renda nos Assentamentos de Reforma Agrária do Brasil, que trouxe dados sobre educação, infraestrutura, habitação, condições de produção, organização e financiamento para os assentados da reforma agrária.
A pesquisa revelou a opinião dos assentados em relação às condições de vida deles antes e depois de se tornarem beneficiários da reforma agrária. O levantamento de dados, feito ao longo de 2010, baseou-se na aplicação de um questionário submetido a 16 mil famílias assentadas por todo o território nacional.
Os assentados que participaram da pesquisa avaliaram de forma positiva as condições gerais de vida após o acesso a terra, por meio da reforma agrária. Em relação à moradia, pelo menos 73% dos assentados garantem que houve melhora significativa sobre a condição anterior.
Outros itens também receberam ampla aprovação por parte dos assentados, como melhora na alimentação, para 64,86%; educação, com avaliação de 63,29% e renda, cujo aumento foi relatado por quase 64% dos assentados. A pesquisa do Incra encontra-se disponível no site do instituto, pelo
www.incra.gov.br.
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